terça-feira, 10 de agosto de 2010

O bloqueio da razão



Talvez olhar para o céu, as estrelas e a Lua seja a forma mais simples de perceber o quão infinitesimal é ser humano. Mas o que é mais interessante nesse processo é que Lua e estrelas se movem enquanto olhamos para elas. Se movem e nos mostram que mesmo com toda a diferença infinita entre as mesmas e nós, são mutáveis, se alteram e têm fim, mostrando a sua própria instabilidade e absoluta insignificância.

Nos acostumamos a pensar que o ser humano é o centro de todas as coisas. Se uma música é feita, por mais que o artista tenha o objetivo de querer expressar ali algo sobre a natureza, atrelamos a mesma à alguma necessidade e a utilizamos com o simples objetivo de satisfazer nossos gostos (sempre inquestionáveis).

Não estamos habituados a valorizar as coisas se elas não podem nos oferecer alguma praticidade, ou se não podemos usá-las como um meio para atingir um objetivo. A razão voltada para o objeto tornou-se insignificante.

ACORDEM, BUTEQUEIROS...

Astor Piazzolla compôs “Adiós Noniño” querendo dizer algo sobre o seu falecido pai e não para fazer um tango em que dançássemos de forma mais emotiva. Escher representava em suas figuras construções impossíveis e a exploração do infinito. Não tinha como objetivo nos deixar perplexos.
As duas citadas acima são expressões artísticas sobre o concreto e o imaginável... São formas de dizer algo sobre o mundo.
Mais um exemplo: A ciência, muitas vezes vista como um simples objeto da técnica para atingir os objetivos de conforto e praticidade na vida do homem é, na verdade, uma expressão do raciocínio humano para tentar dizer como é o funcionamento da natureza.

O mundo não gira em torno das nossas cadeiras. É mais fácil que gire em torno dos nossos copos.

Adorno, Marcuse, Habermas e Horkheimer atentaram para isso que assola e limita o raciocínio do homem a meios que apenas geram inquestionáveis fins e escravizam nosso senso crítico e nossos questionamentos básicos...

...Tendo cedido em sua autonomia, a razão tornou-se um instrumento. No aspecto formalista da razão subjetiva, sublinhada pelo positivismo, enfatiza-se a sua não-referência a um conteúdo objetivo; em seu aspecto instrumental, sublinhado pelo pragmatismo, enfatiza-se a sua submissão a conteúdos heterônomos. A razão tornou-se algo inteiramente aproveitado no processo social. Seu valor operacional, seu papel de domínio dos homens e da natureza tornou-se o único critério para avaliá-la... (Horkheimer, Eclipse da Razão)

É... parece que os estudiosos de Frankfurt tinham mesmo razão o falar da ‘R’azão.

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